
Sobre a dor...

Não que ler? Então ouça a narração:
Kyam, Sophia e Laurinha estavam no corredor do hospital.
- Creio que vai demorar para ela se recuperar disso – disse Sophia
- Se ela se recuperar – falou Kyam
- Mãe... Onde está a tia Maria?
- Foi morar com o Papai do céu, filha.
- Por que ela foi para lá?
- Porque as flores são semeadas e regadas; depois elas crescem, brilham, alegram as nossas vidas e voltam para a casa do Pai.
- A casa é bonita, mãe?
- A casa é linda filha.
A enfermeira se aproximou de Sophia e Kyam com uma prancheta na mão e rosto sereno:
- Quem são os acompanhantes da paciente Sara?
- Nós – respondeu Kyam para a enfermeira.
- Ela está bem?
- Está se recuperando. Creio que logo vai para casa. Ela está no soro.
- Podemos aguardar aqui?
- Sim. O Doutor Roberto vai verificar os exames e assim que eu tiver uma resposta eu retorno para mantê-los informados.
- Tudo bem. Vamos aguardar.
- Vocês são...
- Somos amigos dela. A tia dela está a caminho.
- Tudo bem.
Kyam e Sophia voltaram para o banco frio. O lugar estava silencioso, era véspera da Páscoa e Laurinha estava insatisfeita:
- Mãe, eu sei que a casa de Deus é legal, mas acho que eu
gosto mais da minha casa. A tia Maria não gostava da casa dela?
- Filha.... Depois a gente fala mais sobre isso, pode ser?
- Pode mãe.
- Boa noite! Eu sou o Doutor Roberto. Vocês são os
acompanhantes de Sara, correto?
- Sim – uníssonos.
- Conversei com a paciente. Ela me disse que sua mãe faleceu, sem dúvidas, esta fraqueza é reflexo do luto. Mas ela também precisa se alimentar. Vou deixá-la mais duas horas no soro e possivelmente vou liberá-la.
- Podemos entrar? Perguntou Sophia.
- Uma pessoa.
- Sophia pode ir e eu fico aqui com a Laura.
- Ok.
Sophia entrou na enfermaria e viu Sara respirando fundo, deitada.
- Oi Sara, como você está se sentindo?- Sophia aproximou-se de Sara, dando-lhe um beijo no rosto.
- Dolorida.... Por dentro e por fora...
- Tenha fé, vai melhorar...
Silêncio.
- Sophia, como você se acostumou com a partida do Caio para outra cidade.
- O Caio sempre foi obstinado. Disse que iria, se apoiássemos ou não. Então já fazia algum tempo que ele falava. Acho que fui me acostumando aos poucos. O Kyam ainda não aceita. Mas creio que logo tudo vai melhorar.
- Eu não tive tempo de me acostumar.
- É porque você é mais forte, Sara.
- É porque eu nunca me acostumaria... Sophia eu penso que a dor tem que estar presente todos os dias. Não importa quando e também não sei o porquê. Mas quando não sofremos com filhos, então sofremos com o marido, amigos ou trabalho... A dor é elemento presente. Parece que Deus.... Deixa para lá...
- Sara, eu sei que o momento realmente é muito difícil para você. Mas não se engane. Deus não tem prazer na nossa dor, se fosse assim, não nos teria feito a promessa:
“Ele enxugará dos nossos olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois as primeiras coisas se passaram". Apocalipse 21:04